Fonte: Texto extraído da Internet
Em tempos de guerra não declarada no Oriente Médio (é curioso notar que vivemos hoje numa era em que a guerra é muitas vezes travada sob o manto da negação), convém lembrar que o Irã não é Gaza. Tampouco é uma invenção recente do tabuleiro geopolítico. O Irã - herdeiro direto do grande Império Persa e dos impérios islâmicos que moldaram o mundo antigo e medieval - carrega mais de dois mil anos de história contínua, guerras, resistências e transformações. Não se trata de um Estado artificial nascido do pós-guerra ou da partilha colonial, mas de uma civilização enraizada, orgulhosa e calejada.
A República Islâmica do Irã, marcada por contradições internas e políticas autoritárias, não é melhor (nem pior) que Israel. Mas é uma potência regional com exército, soberania e estratégia. Os iranianos sabem o que é guerra - estiveram em muitas, e sobreviveram a todas. Desde as guerras com os gregos de Leônidas e Alexandre Magno até Saddam, passando por invasões mongóis e conflitos internos, o povo iraniano construiu uma memória coletiva que não se dobra fácil diante de pressões externas. Nesse sentido, o projeto belicista de Benjamin Netanyahu encontra um oponente à altura - não uma vítima inerme, não um inimigo frágil, mas um Estado que se move com racionalidade geopolítica e resiliência histórica.
Gaza, por sua vez, representa outro cenário: uma faixa de terra sitiada, desprovida de soberania plena, sem exército formal, onde a população civil vive submetida ao bombardeio e ao cerco contínuo. Atacar Gaza é, para o governo de extrema-direita israelense, uma operação de força desproporcional contra uma população que mal pode se defender. Já o Irã não oferece esse tipo de conforto estratégico.
Netanyahu, ao longo de seus mandatos, habituou a população israelense a viver uma vida “normal” em meio à permanente fabricação de um “inimigo interno”: os palestinos, os árabes israelenses, os judeus de esquerda, os movimentos antissionistas. Seu sucesso político depende, em grande medida, da manutenção de uma psicologia coletiva fundada no medo existencial e na lógica da ameaça constante. No entanto, ao transformar o Irã no novo alvo central de sua retórica e de suas ações clandestinas, Netanyahu pode estar ultrapassando um limite perigoso. Talvez, quando as consequências de suas escolhas começarem a recair diretamente sobre os próprios civis israelenses - quando as bombas iranianas atingirem lares, bairros, famílias -, seja o próprio povo de Israel a dar um basta ao seu governo nefasto, à guerra não declarada e ao ciclo genocida que ele sustenta.
Só espero que as bombas não caiam sobre as cabeças dos políticos bozistas que agora se escondem em bunkers, de joelhos, implorando ajuda a Lula.
- Ou talvez eu não espere tanto assim…